sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

As aventuras no emblemático Consulado Americano

Depois de obter o visto canadense, tive um 5-minutos de pedir o visto americano, não sei bem ao certo o motivo, rsrs.
Na dúvida se seria melhor pedi-lo aqui ou no Canadá, os meus amigos e conselheiros foram unânimes em me sugerir que eu pedisse o visto aqui no Brasil mesmo, pois seriam poucas as chances de uma negativa.
Pois bem, lá fui eu, providenciar toneladas intermináveis de documentos comprovando até o que não havia necessidade.
Perdi a conta das minhas idas ao cartório pra autenticar, reconhecer firmas ou pedir vias disso ou daquilo.
Acho interessante a diferença dos tratamentos entre os consulados, enquanto no consulado canadense você precisa provar que tem algo a oferecer ao país e explicar o porquê você escolheu ir pro Canadá e sequer é entrevistado, afinal as provas concretas estão no papel e ponto, no americano você tem que "simplesmente" provar que você não é um bandido, imigrante ilegal, coyote, mulinha do tráfico sulamericano ou terrorista, dúvida que eles fazem questão de ressaltar já nos formulários obrigatórios, que mais parecem interrogatórios criminais.
É como entrar em uma loja, já sendo revistado e tendo as sacolas lacradas. Você se sente como o cliente que ao invés de ser bem tratado, é visto com desconfiança e como ladrão em potencial.
Providenciei mais documentos pra apresentar ao Consulado Americano pra um simples Tourist Visa do que pra obter o Open Work Permit do Canada.
Marquei a entrevista -achei o site do consulado extremamente extenso e inconciso, just to mention- e a mesma foi agendada para exatos 21 dias da data de marcação [e há quem diga que isso é um motivo de comemoração].
Chegando lá no suposto horário agendado, percebi que realmente eles estão pouco se fu.... pros horários e que o que vale mesmo é a ordem de chegada.
Entrei e logo senti a tensão no ar, funcionárias, que ao julgar pelo humor, chupam limão esporadicamente, fazem uma conferência mega rápida da documentação tão cuidadosamente organizada e te dizem o que você precisa preencher, rasurar, consertar e etc.
Após esse processo inicial você fica parado na frente de um segurança, que no maior estilo 'Junta Militar' te instrui sobre como você deve entrar (OBS: Gostaria de parabenizar o segurança pela falta de educação dele, foi realmente inspiradora!).
Aí você finalmente entra, deixe seus eletrônicos, malas, granadas, bazucas, tanques de guerra, envelopes de Antrax e a sua alma nos raios-X e segue para o que teoricamente é o 'organizado' ghichê de senhas.
Eu demorei "somente" uns 10 minutos pra localizar tudo e me situar pois haviam pelo menos 200 pessoas naquele lugar, 2 ou 3 gatos pingados que estavam ali pra informar, também com requintes de grosseria, deixando claro que eles realmente pensam estar fazendo favores a quem pagou 131USD pra estar ali.
Tem todo o processo de entregar passaporte e formulários [e a mulher que me atendeu nessa parte foi a única atendente educada que eu vi, inclusive parabenizei ela], depois de aguardar 150 números na frente do meu, tirei as digitais, e por último veio 'O CURRAL', conhecido também como "Fila de entrevistas".
A entrevista, ironicamente, é a coisa mais impessoal possível. Um vidro grosso separa os entrevistadores do 'resto' e eles se limitam a usar um head-phone pra se comunicar com o mundo 'out of the glass box'.
Eu meio tenso aguardei minha vez até que me deparei com um cara muito parecido com o Bill Gates, que esboçava tanta emoção quanto um bloco de granito, olhando através do vidro e dizendo 'próximo', com sotaque de americano que fala português.
Me encaminhei até ele e a entrevista se iníciou.
Ele me perguntou, em ordem, ao maior estilo bate-e-volta:
-Pra que cidade eu ia;
-Onde ficaria;
-Quanto eu esperava gastar;
-Que faculdade eu fazia;
-Em que período eu estava;
-O que meu pai fazia;
-Qual exatamente era a função dele;
-Quantos funcionários havia na empresa;
-Se eu estava indo sozinho pros EUA;
-Se eu ja tinha viajado antes.
...Ele levou uns 10 segundos pra respirar, revelando finalmente que ele nao era um robô e que, SIM!, eles respiram!
Foi justamente nesse intervalo entre ele tomar um arzinho pra recomeçar a me interrogar que eu simplesmente falei:
-Estou indo ao Canada, pra trabalhar por 6 meses.
Ele disse, duvidando:
-É mesmo? E Você tem o visto?
Eu respondi:
-Sim, sim! O senhor quer, por favor, abrir o passaporte e verificar?
Ele o fez e então veio meu momento de maior prazer...
Ele abriu, viu o visto canadense, olhou pra min com uma cara de profundo desapontamento e disse:
-Realmente...[respiração profunda] Seu visto americano foi aprovado, pode sair e pagar o correio, o passaporte chega em 6 dias.
Eu falei:
-Mas é só isso mesmo?
Ele fez que sim com a cabeça e se voltou pra tela do computador e eu agradeci e saí.
Os milhares de documentos que eu levei comprovando até o sexo dos anjos? SIMPLESMENTE NÃO FORAM SEQUER MENCIONADOS PELO OFICIAL CONSULAR, NEM OS TIREI DO ENVELOPE!!!
[...]
Já lá fora, paguei o Sedex após a fila imensa e saí para o mundo além dos portões da fortaleza, digo, Consulado.
E foi assim, que 4 agradáveis horas depois, eu consegui meu segundo visto da vida!
E agora, uma imagem para ilustrar o quanto me sinto 'Bem-Vindo', a julgar pelos serviços do Consulado Americano [clique para ver a imagem inteira]:



Abraços!!